Moradores tentam reconhecer corpos em praça do Complexo da Penha no dia seguinte à megaoperação
O dia amanheceu pesado no Complexo da Penha. Na Praça São Lucas, o cenário parecia mais um campo de guerra do que um bairro do Rio de Janeiro. Moradores e familiares, em meio ao desespero e ao cheiro da tragédia, tentavam reconhecer os corpos espalhados pelo chão. Segundo o governo do estado, 121 pessoas morreram durante a megaoperação contra o Comando Vermelho — 117 delas apontadas como suspeitas. Quatro policiais também perderam a vida.
Na quarta-feira (29), mais de 70 corpos foram retirados de uma área de mata conhecida como Serra da Misericórdia, onde os confrontos se concentraram. O nome, aliás, parece ter virado ironia: misericórdia foi o que menos se viu. De lá, os mortos foram levados para a Praça São Lucas, na Vila Cruzeiro, onde se formou uma mistura de luto e revolta.
Uma mulher foi consolada após encontrar o corpo de um parente. Um idoso procurava notícias do filho entre as fileiras de mortos. Moradores se indignavam com a violência que insiste em ser rotina no Rio. As imagens, captadas por drones e câmeras de celular, mostravam a dimensão do horror — corpos enfileirados, familiares chorando, abraços interrompidos pelo medo.
No alto dos morros da Penha e do Alemão, o silêncio pós-operação parecia gritar. Entre a dor e a descrença, restou à comunidade mais uma estatística para a conta e uma praça transformada em necrotério a céu aberto.
FOTOS: Beto Caldas Novas.












